quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Um filme sem imagem

Um presentinho para todos (e foram muitos) que ficaram curiosos para verem o rosto de nossos entrevistados, aí vão fotos de alguns deles!

Thereza e seus filhotes:

(um dia depois que ela foi com o mais velho, Marcos - de vermelho-, conhecer os três novos membros da família)



Thereza e os filhos em 2009:



O casal Júnior e Vasco dando um beijo nas bochechas fofas da filha Theodora:



Theodora, Júnior e Vasco provando que qualquer maneira de amor vale a pena:



Yara e o maridão:


Os três filhos de (todo o) coração de Yara:




É isso aí! Quando pegarmos mais fotos com os entrevistados, acrescentamos aqui!

Por trás dos bastidores

(Por Maíra Morais)

Quando estávamos prestes a iniciar a etapa de entrevistas, e a aventura propriamente dita, começamos a imaginar como seriam as pessoas que conversariam conosco. Se os profissionais da adoção seriam acessíveis e bondosos e se os pais teriam paciência para nos acolher também, ainda que por somente a duração da entrevista.


Os abrigos e a "falha nossa"


Tivemos um bocado de dificuldade no início. A presidente do primeiro abrigo de crianças especiais, ao qual ligamos, disse que seria impossível conversar com ela e, mais ainda, com as crianças. Ficamos bastante decepcionadas, mas não insistimos e fomos visitar outra instituição.

O começo que já parecia bem complicado, piorou. Por falta de experiência, ou pelo receio de ouvir outro “não”, fomos ao segundo abrigo que havíamos listado sem dar aviso prévio ao presidente ou ao assistente social. Combinamos que seria apenas uma visita para ter uma ideia de como eram as crianças e as pessoas que conviviam com elas. No abrigo, conversamos com vários adolescentes e crianças mais velhas. As conversas, porém, eram tão sensibilizadoras que erramos. Deixamos o instinto jornalístico se sobrepor a nossa curiosidade humana e sensível. Ligamos o gravador.

Temos que dizer que erramos, pois nada justifica utilizar como material o depoimento dos meninos e meninas que nos trataram como amigas, e não como repórteres. A ideia de transformar pessoas em personagens era tão impossível que preferimos apagar as sonoras feitas, e, nesse momento, entendemos o primeiro “não” da nossa trajetória. Somente quem convive com as crianças sabe realmente o que elas sentem e conhece a dificuldade de ajudá-las a repensar uma vida longe da família biológica. Qualquer pergunta mal formulada ou incitação de lembranças de um passado mal resolvido machuca, atrapalha o desenvolvimento dessas crianças.

A presidente do primeiro abrigo que, à primeira vista, nos pareceu extremamente fria e rude, depois desse episódio, ganhou nossa total compreensão. Quem está no abrigo precisa de muita proteção.

Após insistir em várias instituições de acolhimento e mostrar nosso roteiro de perguntas a assistentes sociais e psicólogos, conseguimos agendar várias entrevistas com crianças, presidentes de abrigo e com profissionais da Vara de Infância e Juventude. E, sim, quebrada a barreira inicial, todos foram muito acessíveis e bondosos.



As crianças



Quanto às crianças, foram as que mais idealizamos. Talvez, pelo fato de muitas delas não terem tido um início de infância semelhante ao que tivemos, achávamos que elas responderiam nossas perguntas se queixando de solidão e abandono, ou que seriam meninos e meninas tristes. Logo no primeiro abrigo que visitamos, conhecemos um adolescente, cheio de ambições, que nos provou o contrário.

Luciano*, de 15 anos, estava bem tímido no começo da entrevista, mas, depois de algumas brincadeiras e assuntos despretensiosos, revelou seu sonho para nós. Assim, sem termos sequer iniciado as perguntas do roteiro, ele contou que queria ser chef de cozinha e que seu maior desejo era fazer uma lasanha. Foi um dos momentos mais surpreendentes de todas as entrevistas. Esperávamos sonhos como ter uma casa para morar, receber amor incondicional ou ganhar uma família. Quando vimos o brilho nos olhos do menino ao explicar como achava que devia ser feita uma lasanha, nos deparamos com uma infância inteira de carências que, por um momento, parecia ser resolvida com tão pouco. Não que o sonho de Luciano* fosse menos digno, mas, para nós, ele representava o sublime no banal.

Sublime como todas as crianças e jovens que conhecemos, cada uma à sua maneira: Júlia*, de oito anos, e seu sonho de ser médica para cuidar de outras crianças; João*, de 13, com seu talento para desenho e a certeza de que será designer de interiores; Luana*, de 10, e a vontade de adotar um filho, quando crescer, para lhe dar a oportunidade que não teve. Esses e todos os outros que entrevistamos nos modificaram um pouco, abriram nossos olhos pré-conceituosos para que pudéssemos enxergar uma realidade um bocado difícil, algumas vezes triste, mas, acima de tudo, encantadora e emocionante.



As famílias




O termo “acolhidas” seria um eufemismo diante de tamanha disponibilidade, atenção e confiança que recebemos. Pais e mães não só nos acolheram em suas casas (pessoalmente ou por telefone), como compartilharam conosco os momentos de dificuldades e alegrias, medos e superações. O primeiro abraço no filho, a pior bronca e as etapas da construção do afeto foram todas reveladas para nós, a princípio, duas estranhas.

É difícil compactar em palavras a sensação que tivemos em cada uma das casas que visitamos, em cada história que nos foi contada. Na casa de Clarissa e Sérgio Kowalski, por exemplo, é impossível traduzir a paz e o amor que sentimos logo quando cruzamos a porta de entrada. Sérgio tocou a música preferida de Gabriel, seu filho adotivo, no piano, para nós, e ele e Clarissa conversaram tanto conosco que mais parecia uma visita do que uma entrevista. Mesmo após desligarmos os gravadores e encerrarmos as perguntas do roteiro, não conseguimos ir embora. Dava vontade de fazer parte daquela família também.

Júnior de Carvalho, pai adotivo de Theodora, também teve muita paciência ao atender um interurbano e se atrasar 40 minutos para o trabalho só para nos contar sua experiência para nós. Foi maravilhoso entrevistar alguém de outra cidade (Catanduva, SP) e, ainda assim, sentir a emoção de suas palavras através do telefone.

Adotar não é um ato de caridade, mas esses pais e mães têm sim um quê de heróis. Não por “salvarem” ou darem uma chance para as crianças, mas por darem uma chance ao amor. Por acreditarem que, assim como em qualquer outro relacionamento, podem conhecer cada detalhe de outra pessoa e amá-la apesar de suas diferenças.


Tá pensando em adotar?


E não sabe o que fazer? Aqui vai um passo-a-passo para que você saiba direitinho o que deve fazer para acolher uma criança ou um adolescente! É fácil, olha só!

1. Ir até a Vara da Infância e da Juventude

Quais documentos levar?
·
Cópia autenticada da certidão de nascimento ou casamento

· Carteira de identidade e CPF

· Cópia do comprovante de renda mensal

· Atestado de sanidade física e mental

· Atestado de idoneidade moral assinado por duas testemunhas, com firma reconhecida

· Atestado de antecedentes criminais

2. Entrevista com psicólogos e assistente social. É informado o perfil da criança que se pretende adotar: idade, sexo, tipo físico etc

3. Aprovado na entrevista, o adotante passa a integrar o cadastro de habilidades e está apto para adotar

4. O serviço social faz uma busca nos dados da comarca para tentar encontrar uma criança no perfil informado de criança que se pretende adotar. Se houver alguma disponível, o adotante é informado5. Avisado sobre a existência da criança, o juiz autoriza o encontro entre eles na VIJ ou no abrigo em que ela se encontra

6. Inicia-se uma aproximação gradativa, chamada de estágio de convivência. A duração do período varia de caso a caso, sempre acompanhado de uma equipe psicossocial e entrevistas periódicas

7. Sentença de adoção é dada pelo juiz após o estado de convivência. O prazo é estabelecido pelo juiz

"Retratos da Adoção" e suas marcas nas autoras

Finalmente chegamos (eu e a Maíra) ao fim de nossa empreitada de produzir um radiodocumentário sobre as práticas incomuns de adoção (tardia, de crianças com necessidades especiais de saúde, inter-racial e por homossexuais). Ao mesmo tempo em que se encerra uma importante fase em nossas vidas de universitárias, sentimos que estamos simplesmente ao início de uma jornada.
Não me refiro ao fato de que agora teremos um diploma ou coisa parecida, mas porque os últimos meses - sem intenção alguma de ser clichê ou piegas- mudaram nossas vidas, em muitos sentidos. Foram tantas histórias, tantas emoções, tantas alegrias compartilhadas entre nós e nossos entrevistados, que podemos dizer que não somos as mesmas de antes de todo o trabalho.
É verdade que muitas reportagens ao longo do curso deixaram uma marca em nossas "páginas em branco" de experiências. Mas posso dizer que o radiodocumentário "Retratos da Adoção" preencheu umas boas dezenas (ou centenas) de páginas!
Foram tantas entrevistas e, mesmo assim, cada história, cada experiência teve um impacto único e profundo sobre nós e nos tocou de uma maneira diferente. Lembramos de todos os depoimentos, tudo o que vimos, ouvimos e vivemos, como se tivéssemos iniciado ontem o processo de produção. Alguns depoimentos ficaram em nossas cabeças por dias, até semanas! Decoramos frases inteiras e era muito engraçado quando comentávamos uma com a outra (eu e a Mai) sobre algo que um entrevistado disse e sabíamos as palavras exatas com as quais tal coisa havia sido dita.



O blog

Todo o processo será relatado nesse blog, e procuraremos descrever aqui os depoimentos, nossas impressões, emoções e o que vivemos nesses últimos meses, em cada entrevista. É claro que muito do que as pessoas nos revelaram será mantido somente entre nós e não poderemos publicar, afinal, uma entrevista é, muitas vezes, um confessionário, e as pessoas revelam muito além do que gostariam que fosse divulgado. É exatamente em gratidão a essa confiança em nós depositada que manteremos os segredos, prometendo aos leitores desse blog trazer o que realmente é importante que saibam sobre os bastidores de nossa empreitada.
Aqui, publicaremos também informações importantes sobre adoção, o passo-a-passo para concretizá-la e muitas outras coisas. Também aceitamos contribuições com textos, poemas, depoimentos, histórias, notícias, críticas, elogios e sugestões. Espero que, assim como nosso radiodocumentário, esse espaço possa ser uma iniciativa para incentivar as adoções incomuns e para que muitas pessoas que estão receosas possam se tranquilizar e entender um pouco mais sobre o processo. Ficamos aqui com uma frase de uma de nossas entrevistadas, a mãe por adoção, psicóloga e presidente do Projeto Aconchego de apoio à adoção, Soraya Pereira:

"Filho não sai da gente. Filho entra. Cada um dia um pouquinho".